No WHR – Women’s Health Research, tenho como missão transformar a forma como a endometriose é entendida e tratada. Durante muito tempo, a medicina se apoiou na teoria da menstruação retrógrada, proposta por John Sampson em 1927, que defendia que o sangue menstrual poderia refluir pelas trompas, se espalhar pela cavidade abdominal e se implantar em diferentes órgãos.Essa hipótese, apesar de histórica, não responde de maneira lógica e consistente a vários aspectos da doença:
- Por que a endometriose surge sempre nos mesmos locais, em padrões repetidos?
- Como explicar a presença da doença em meninas antes da menarca ou, em casos raros, até em homens?
- Por que encontramos lesões profundas nas fáscias e nervos pélvicos, impossíveis de serem explicadas apenas por um “implante” superficial?
Diante dessas falhas, defendo e desenvolvo a visão de que a endometriose é, na verdade, uma doença genética e embrionária, relacionada a falhas no desenvolvimento dos ductos de Müller durante a embriogênese. Essa explicação, chamada de teoria embrionária ou teoria mülleriana, mostra que a doença não é adquirida ao longo da vida, mas sim determinada desde a formação intrauterina.Esse conceito não apenas explica a topografia fixa das lesões — paramétrios, fundo de saco, fáscia pré-sacral, diafragma direito — como também integra a endometriose a outras condições do mesmo espectro, como adenomiose, úteros malformados e miomas. Trata-se de uma única síndrome: a mulleriose.No WHR, traduzo essa teoria em prática cirúrgica por meio da técnica da remoção em bloco da endometriose (en-bloc excision/peritonectomy). Essa abordagem respeita a lógica embriológica da doença, permitindo a retirada completa das lesões infiltradas nas fáscias e nervos, com resultados consistentes no alívio da dor crônica e na restauração da fertilidade.Minha produção científica, em parceria com colegas, já está publicada em revistas indexadas no PubMed, como o Journal of Minimally Invasive Gynecology e Case Reports in Women’s Health. Além disso, minha visão se apoia em trabalhos fundamentais de referências internacionais como David Redwine e Pietro Signorile, que também contestaram a teoria clássica de Sampson e trouxeram evidências sólidas da origem embrionária da doença.Meu compromisso, como cirurgião e pesquisador, é avançar essa compreensão para que cada paciente com endometriose possa ter acesso a um diagnóstico mais preciso e a um tratamento realmente eficaz.
Referências
- Chiminacio, I., Obrzut, C., Petry, J. F., Sabadin, H., & Nishimura, A. (2024). En-bloc excision and peritonectomy for endometriosis: Relieving pain and improving fertility step-by-step. Journal of Minimally Invasive Gynecology, 31(11, Supplement), S83–S84. https://doi.org/10.1016/j.jmig.2024.09.753
- Chiminacio, I., Obrzut, C., & Saggin, S. (2023). Post-orgasm pain associated with endometriosis and complete resolution of symptoms after laparoscopic en-bloc peritonectomy: A case report. International Journal of Surgery Case Reports, 109, 108558. https://doi.org/10.1016/j.ijscr.2023.108558
- Chiminacio, I., & Obrzut, C. (2023). The imbalance of pelvic forces and the pain caused by endometriosis: En-bloc peritonectomy, a solution for this. Journal of Minimally Invasive Gynecology, 30(11, Supplement), S41. https://doi.org/10.1016/j.jmig.2023.08.127
- Chiminacio, I. (2025). Regarding “Embryological and Müllerian aspects of the origin of endometriosis.” Journal of Minimally Invasive Gynecology, 32(8), 746–747. https://doi.org/10.1016/j.jmig.2025.02.018
- Chiminacio, I., Obrzut, C., Nishimura, A., Petry, J. F., & Sabadin, H. (2024). Diaphragmatic endometriosis adjacent to pericardium and heart, a Müllerian defect removed by en-bloc peritonectomy. Journal of Minimally Invasive Gynecology, 31(11, Supplement), S34. https://doi.org/10.1016/j.jmig.2024.09.134
- Chiminacio, I., Petry, J. F., Verissimo Campos, N. N. L. R., & Obrzut, C. (2025). Multiple lesions of endometriosis in the small intestine treated by the shaving technique: A case report. Case Reports in Women’s Health, 47, e00731. https://doi.org/10.1016/j.crwh.2025.e00731
- Redwine, D. B. (1987). Mülleriosis instead of endometriosis. American Journal of Obstetrics and Gynecology, 156(3), 761. https://doi.org/10.1016/0002-9378(87)90093-7
- Redwine, D. B. (2002). Was Sampson wrong? Fertility and Sterility, 78(4), 686–693. https://doi.org/10.1016/S0015-0282(02)03329-0
- Signorile, P. G., Baldi, F., Bussani, R., D’Armiento, M., De Falco, M., Boccellino, M., Quagliuolo, L., & Baldi, A. (2010). New evidence of the presence of endometriosis in the human fetus. Reproductive BioMedicine Online, 21(1), 142–147. https://doi.org/10.1016/j.rbmo.2010.04.002