27 May
27May

Por Igor Chiminacio, MD - Médico e pesquisador da endometriose

Resumo:

A endometriose tem sido tradicionalmente considerada uma doença inflamatória e epigenética de origem incerta, frequentemente explicada pela teoria da menstruação retrógrada. No entanto, novas evidências sustentam que a origem mais plausível da doença reside em resquícios embrionários dos ductos de Müller, que permanecem em locais ectópicos e passam a responder aos hormônios ovarianos após a puberdade. Esta teoria explica a distribuição anatômica padronizada das lesões, muitas vezes profundas e dolorosas. A técnica de remoção em bloco, descrita pelo autor, Dr. Igor Chiminacio, fundamenta-se nesse entendimento embriológico e visa remover completamente o tecido ectópico visível e microscópico, promovendo a resolução total dos sintomas. Este artigo revisa criticamente os modelos etiológicos vigentes e propõe uma mudança de paradigma baseada na embriologia e na anatomia cirúrgica profunda.

Palavras-chave:

Endometriose; Remoção em bloco; Anatomia embrionária; Ductos de Müller; Dor pélvica crônica

Introdução

A endometriose é uma condição ginecológica comum, afetando mulheres em idade reprodutiva. Tradicionalmente, sua origem é atribuída à menstruação retrógrada, mas essa teoria apresenta falhas importantes: não explica a presença de endometriose em fetos, em mulheres sem menstruação, ou a localização assimétrica das lesões.

A Teoria dos Resquícios Mullerianos

A nova hipótese sustenta que células dos ductos de Müller, por falha genética na migração ou diferenciação, permanecem em locais ectópicos desde a embriogênese. Estas células respondem aos hormônios ovarianos e causam inflamação local ao sangrar em tecidos profundos. As áreas afetadas correspondem à trajetória embriológica dos ductos de Müller — como os paramétrios, ligamentos útero-sacros, fossa ilíaca direita e hemidiafragma direito.

Inflamação como Consequência

Na visão tradicional, a inflamação seria a causa da doença. Contudo, ela é uma resposta do organismo ao sangue presente fora dos vasos, em planos fasciais de colágeno. Esse processo leva à fibrose e perpetuação da dor. A endometriose, portanto, gera inflamação — e não o contrário.

Implicações Cirúrgicas: A Remoção em Bloco

Baseando-se na trajetória dos ductos de Müller, a cirurgia deve remover completamente a doença nos planos embrionários. A técnica de remoção em bloco, descrita pelo autor, remove o tecido comprometido em um único segmento anatômico, respeitando a integridade dos planos neurovasculares. A remoção completa de lesões microscópicas previne recidivas, melhora sintomas e evita fibrose tardia.

Treinamento Cirúrgico Especializado

A remoção em bloco exige formação específica em anatomia profunda da pelve. O cirurgião deve dominar estruturas como nervos somáticos, vasos pélvicos e fáscias, assegurando ressecção completa da doença com preservação funcional. O objetivo é alcançar resolução sintomática total sem sequelas.

Conclusão

A endometriose deve ser reconhecida como uma doença de origem embriológica, e não apenas inflamatória. A técnica de excisão embriológica em bloco proporciona a abordagem mais lógica, eficaz e segura. Sua implementação requer capacitação avançada, mas oferece uma perspectiva de cura definitiva para mulheres acometidas por essa enfermidade.

Referências (Estilo Vancouver):

  1. Redwine DB. Was Sampson wrong? Fertil Steril. 2002;78(4):686–93.
  2. Signorile PG, Baldi A. The presence of endometriosis in the human fetus. Fertil Steril. 2010;93(4):1536–9.
  3. Chiminacio I, et al. Complete resolution of post-orgasmic pain after en-bloc peritonectomy for endometriosis. J Minim Invasive Gynecol. 2024.
  4. Chiminacio I, et al. Deep excision along Müllerian planes leads to superior outcomes in patients with pelvic pain. J Minim Invasive Gynecol. 2024.
  5. Yale Medicine. Endometriosis is more than just 'painful periods'. 2023.

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